O avanço tecnológico vem permitindo o aumento de modelos de moto com conjuntos de transmissão mais eficientes, sejam eles equipados com dupla-embreagem, com marchas que podem ser selecionadas pelo piloto ou trocadas de forma automática.
Apesar das diferentes soluções encontradas e exploradas por cada montadora, uma semelhança bastante popular é o uso de embreagem-câmbio integrado, compartilhando o lubrificante com o motor. A maior parcela das motocicletas em circulação atualmente conta com conjunto que compartilha o óleo de motor com o câmbio e embreagem úmida.
No que diz respeito a lubrificação, a seleção do óleo para estes casos deve levar em consideração as exigências e particularidades dos três sistemas, o que torna a JASO tão utilizada para classificação de lubrificantes de motor das motos.
O que é JASO?
A JASO (Japanese Automotive Standards Organization) ou Organização Japonesa de Normas Automotivas surgiu a partir das principais montadoras do Japão, como alternativa às especificações API (American Petroleum Institute) a fim de abranger necessidades exclusivas dos motores japoneses modernos.
A JASO possui distintos sistemas de implementação para classificação do desempenho de óleo de motor, tanto para automóveis a gasolina ou diesel quanto para motos 4 ou 2 tempos.
Especificação JASO T 903
A especificação JASO T 903, para classificação de óleo de motor 4 tempos a gasolina para motos, é tão popular para caracterização de lubrificantes de moto atualmente porque compreende testes variados não experimentados na especificação API, com foco em automóveis. Dentre eles, destacam-se os ensaios com relação à embreagem úmida, característica particular diferente dos carros.
Utilizar o lubrificante adequado para motores de motos com embreagem úmida contribui para o bom funcionamento do conjunto. Isto porque a embreagem é responsável por fazer a conexão entre o motor e a transmissão utilizando a fricção dos discos para evitar deslizamentos, baixa eficiência na transferência de potência, trepidação ou condução desconfortável. Para estes casos de embreagem úmida, o óleo age como resfriador dos discos de embreagem, mas também como película entre os discos que deve garantir fricção, a fim de evitar patinação e superaquecimento.
Para garantir o desempenho em todas as condições enfrentadas, alguns testes da especificação JASO T 903 caracterizam os parâmetros de fricção necessários em cada caso.
DFI (Dynamic Friction Index – Índice de Fricção Dinâmica)
Caracteriza a sensação da embreagem e transferência de potência durante o acoplamento; simula uma velocidade máxima de giro do motor e verifica a capacidade do lubrificante em manter rotações extremas em regime constante.
SFI (Static Friction Index – Índice de Fricção Estática) Resistência ao deslizamento da embreagem sob condições de alto torque; representa o índice de atrito entre os discos da embreagem em situação de aceleração.
STI (Stop Time Index – Índice de Tempo de Parada )
Mede a rapidez de acoplamento da embreagem; Indica o tempo necessário para interromper completamente o deslizamento dos discos.
Ao longo dos anos, os testes para classificação do desempenho dos lubrificantes em funcionamento de motores com embreagens úmidas em arranque, aceleração e alta velocidade constante sofreram alterações, junto às novas tecnologias e exigências de mercado e a especificação JASO T 903 acaba de se atualizar. Confira a seguir o que mudou.
Nova JASO T 903: 2023
Como já praticado em versões anteriores da mesma especificação, a especificação JASO T 903 atualizou mais uma vez seus parâmetros e testes a fim de classificar e registrar lubrificantes para motos 4T a gasolina superiores às formulações que atendiam a versão anterior da norma.
A especificação, atualizada pela última vez em 2016, sofreu alterações em 2023 e a Motul foi a primeira empresa a atualizar suas fórmulas para atender ao novo padrão mais exigente!
Entenda o que mudou e o que isso significa na hora de escolher o lubrificante para sua moto.
JASO 2016 VS 2023 – Tudo que mudou
Classificações de fricção (Embreagem Úmida)
Apesar da popularidade da especificação para caracterizar lubrificantes de motores com embreagem úmida, os parâmetros já conhecidos para classificação do desempenho do conjunto de embreagem continuam os mesmos.
Devido à dificuldade de fornecimento dos itens obrigatórios para caracterização do material, a introdução de um novo Óleo Referência e Placa de Fricção na descrição da nova especificação incluem novos índices revisados para classificação do lubrificante quanto as legendas MB, MA, MA1 e MA2, utilizadas para identificação da performance do sistema em relação a fricção da embreagem nas condições de arranque, aceleração e alta velocidade constante.
Parâmetros de fricção nos testes considerando nova placa de fricção.
Teor de Fósforo
A segunda alteração na especificação JASO T 903 diz respeito ao teor de fósforo aceitável na formulação. O uso de fósforo em lubrificantes é comumente associado a aditivos antidesgaste e/ou inibidores de corrosão e a redução do limite de teor de fósforo na nova atualização da JASO indica a necessidade das formuladoras de aperfeiçoar e utilizar pacotes de aditivos alternativos para cumprir com o desempenho esperado.
Também podendo estar presente em pacotes modificadores de fricção e extrema pressão, a mudança surge alinhada à preocupação com sistemas de pós-tratamento. A alta concentração de fósforo e outros elementos contribui negativamente com o sobrecarregamento do sistema de escape, responsável por atenuar as emissões de gases poluentes gerados na câmara de combustão.
Assim como já percebido na indústria de veículos pesados e de passeio, as fabricantes de motocicletas, motivadas pelo desenvolvimento de modelos sustentáveis e códigos ambientais cada vez mais restritos, também seguem a tendência de lançamentos futuros com sistemas de pós-tratamento mais restritos, sejam eles catalisadores como conhecemos atualmente ou novas tecnologias, tornando maior a necessidade de harmonia dos lubrificantes com este sistema.
O menor teor de fósforo indica maior compatibilidade com sistemas de pós-tratamento para os óleos que já atendem a especificação JASO T 903: 2023.
Atualização Teor de Fósforo – JASO T 903:2023
Perda por evaporação
Outro parâmetro da nova especificação que também ficou mais exigente é a perda por evaporação. Lubrificantes com altos níveis de perda por evaporação estão diretamente expostos a maior consumo de óleo, resultando em intervalos de troca menores.
O alto consumo de óleo devido a perda por evaporação impacta o funcionamento do sistema. Em caso de engrossamento, algumas propriedades podem ser comprometidas, como redução de atrito, culminando no aumento da demanda de energia, diretamente associada ao consumo de combustível. Este efeito de espessamento também promove a formação de borra indesejada, tornando lubrificantes com menor perda por evaporação ainda mais desejados.
Atualização Perda por Evaporação – JASO T 903:2023
Normas Standard
Além de atender a requisitos físico-químicos indicados com limites pré-estabelecidos, como percentual em massa de cinzas sulfatadas, tendência a formação de espuma, estabilidade ao cisalhamento e viscosidade em alta temperatura e alto cisalhamento, junto aos critérios que sofreram alterações de seus parâmetros na nova atualização – teor de fósforo e perda por evaporação – os lubrificantes classificados segundo a especificação JASO T 903 também devem atender o nível de desempenho de alguma das normas standard apontadas pela JASO para classificação.
A JASO aponta no manual de aplicação da especificação algumas normas para caracterização de óleos de motores 4 tempos, comumente aplicadas para veículos de passeio. A versão anterior da especificação, de 2016, permitia o registro de lubrificantes de motos classificados pelas normas ILSAC (International Lubricant Standardization and Approval Committee) e ACEA (Associação dos Construtores Europeus de Automóveis), ambas normativas aplicadas para classificação de desempenho de óleos desenvolvidos para veículos leves e pesados.
Devido à ausência de registros de lubrificantes para motos com motores 4T classificados segundo a ILSAC ou ACEA, ambas foram retiradas da nova especificação da JASO.
A atualização que impacta bastante o desempenho dos novos lubrificantes classificados pela nova versão da JASO, no que diz respeito às normas standard, é a mudança das versões da API aceitas.
Antes de entender o que mudou, vamos conhecer um pouco mais da norma API.
O que é API?
API (American Petroleum Institute – Instituto do Petróleo Americano) determinou um padrão para veículos movidos a todos os tipos de combustíveis, porém com parâmetros diferentes quando o veículo possui ignição por centelha ou ignição por compressão. Essa norma standard pode ser encontrada para caracterizar tanto lubrificantes de motos, mas também de carros. Para motos sempre teremos API S seguido de uma segunda letra. O S vem de Spark – Faísca, justamente para caracterizar motores com ignição por centelha/faísca.
A segunda letra nos indica o nível de exigência atendido pelo produto.
A norma, que começou a ser utilizada em meados dos anos 20, foi passando por atualizações, assim como a JASO, a fim de acompanhar as necessidades tecnológicas dos motores em cada época e exigências ambientais, desde consumo de combustível até o controle de emissões.
Por se tratar de uma norma retrocompatível, a aplicação de lubrificantes que ostentam uma versão API mais recente pode ser aplicada sempre que uma versão igual ou inferior/anterior seja solicitada no manual da moto; já o contrário não pode ser aplicado.
A especificação JASO T 903 de 2016 permitia que versões do padrão americano (API) obsoletas fossem utilizadas para classificação dos lubrificantes. A nova atualização, de 2023, deixa de aceitar versões menos exigentes e adiciona os níveis mais rígidos e recentes da norma API: SN Plus e SP.
Atualização API – JASO T 903:2023
A atualização da API para classificação da JASO torna a atualização de 2023 mais restrita quanto à performance das novas formulações já adequadas à nova especificação. A evolução entre os níveis mais altos da API aceitos pela versão de 2016 (API SN) vs 2023 (API SP) permite que marcas como a Motul possam atender seus clientes com lubrificantes com melhor desempenho.
Avaliando as duas versões supracitadas, API SN e API SP, a introdução dos padrões mais altos do American Petroleum Institute na nova JASO T 903 possibilita que lubrificantes de motos que já ostentam as novas especificações apresentem maior proteção contra o desgaste em correntes de comando e no motor, controle de depósitos, maior proteção contra corrosão, estabilidade a oxidação e menor formação de verniz e borra.
Quais óleos já foram atualizados?
Assim como na linha NGEN, a Motul já saiu na frente e você já pode encontrar 4 linhas de lubrificantes para motos 4 tempos que já foram atualizadas para atender ao padrão mais alto de exigência: JASO T 903: 2023 e API SP. São as linhas 5100, NGEN 5, 7100 e NGEN 7.
Tabela de performance
O que isso representa para o meu motor?
Maior proteção contra o desgaste do motor e correntes de comando
Controle de depósitos
Maior proteção contra corrosão
Estabilidade à oxidação
E menor formação de verniz e borra
Além de maior compatibilidade com sistemas de pós-tratamento e menor consumo de óleo, como abordado.
Para identificar se o óleo adquirido já atende ao novo padrão, basta verificar no rótulo traseiro as normas atendidas para garantir que o produto atende ao nível de exigência da moto.
A Motul é a primeira empresa a atualizar seus produtos de acordo com a nova especificação JASO T 903: 2023. Novos produtos não podem ser registrados seguindo a especificação anterior, mas os produtos já classificados seguindo a versão de 2016 ainda poderão ser comercializados até 2028.
Portanto, fique atento às exigências do seu motor e ao lubrificante escolhido para sua moto! Caso ainda tenha dúvidas sobre qual óleo colocar na sua moto, consulte o Guia de Aplicações pelo aplicativo Motul Expert, disponível na App Store e Google Play e siga a Motul no Instagram e no Facebook.
