Técnico

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Entenda como acontece a degradação do fluido de freios

Danilo Silva
Engenheiro de Aplicações

O fluido de freios é vital para o funcionamento do sistema, por isso ele requer atenção no momento da revisão preventiva. Afinal, quando ele se degrada, compromete a ação de frenagem e gera o risco de graves acidentes. 

Por isso, nesse artigo, vamos destacar o processo de degradação do fluido com o tempo de uso. Além disso, falaremos sobre instrumentos de teste e os impactos ao não efetuar a troca do fluido de freios.

Mas, se este for o primeiro conteúdo que você está lendo sobre o sistema de freio, recomendamos que veja o artigo em que explicamos os tipos de fluidos do sistema de freios. E também o texto sobre a importância de utilizar o fluido correto em veículos com sistema ABS, ESP e ASR.

A degradação do fluido de freios no uso diário

A deterioração do fluido pode ocorrer por alguns fatores, como por exemplo:

  • Degradação natural devido ao uso, condições de frenagens abruptas onde o sistema superaqueça com frequência;
  • Problemas com a vedação do sistema;
  • Contaminação por abastecimento de fluido incompatível;
  • Manutenção sem o cuidado requerido para a boa limpeza. 

Erros durante a manutenção ou por abastecimento indevido podem corromper a ação dos freios, por isso, recomendamos que qualquer serviço que esteja relacionado ao sistema de freios seja feito por um especialista de confiança.

Pensar em trocar o fluido apenas quando substituir as pastilhas e discos é algo comum, mas isso também é um problema. Ainda que o veículo esteja em perfeitas condições mecânicas e seja utilizado para o uso diário, a substituição do fluido é necessária. Mesmo se não houver o desgaste dos componentes mecânicos ao atingir o intervalo de tempo.

Os fluidos de freio convencionais, higroscópicos, absorvem umidade e, com isso, o seu ponto de ebulição diminui com o tempo, em uso ou não. Obviamente, condições de uso extremo como, por exemplo, os atingidos em pista, aceleram significativamente a durabilidade do líquido para freios. Mas, nos veículos submetidos a condições normais, o fluido também sofre com a perda de propriedade e capacidade de funcionamento.

Quando deve ser feita a troca do fluido de freios?

O manual do proprietário traz a recomendação sobre a substituição do fluido, mas caso você não encontre essa indicação, o fabricante, segundo o Inmetro, diz que a troca deve ser anual.

Para facilitar a compreensão, veja abaixo a ilustração teórica do processo de diminuição da temperatura de ebulição devido a ação do tempo. 

O gráfico é uma representação da influência da absorção de água em um fluido conforme parâmetros da norma DOT. Isso considerando que o período até atingir o nível do ponto de ebulição úmido seja de 2 anos. Mas, em países tropicais ou regiões de alta umidade, é possível atingir a temperatura de ebulição em menos tempo. Então, o Inmetro recomenda que ele seja substituído em 12 meses quando o fabricante do equipamento não indica no manual.

Além de seguir a indicação do manual, com o auxílio de equipamento de teste é possível verificar a temperatura de ebulição do fluido. Mas, tome cuidado com o equipamento utilizado, pois grande parte dos instrumentos oferecidos no mercado não conseguem fazer uma aferição precisa.

Basicamente, no mercado há dois tipos de instrumentos de teste de fluido: testadores por condutividade e testadores através da temperatura de ebulição.

Testes de fluido de freio por condutividade

As famosas “canetinhas” de teste de freio estão se tornando cada vez mais populares por conta do custo acessível. Além disso, elas são mais fáceis de encontrar no Brasil do que quando comparadas aos outros métodos existentes. 

Apesar disso, você deve estar ciente de que elas não são as mais indicadas para conferir se um fluido de freio está em boas condições. Alguns produtos podem ser mais sofisticados do que outros, podendo ter escala, painel digital e até um pouco mais de precisão. Porém, se o método de medição for por condutividade, tome cuidado porque a margem de erro pode ser muito significativa.

Muitos testadores deste tipo condenam o fluido de freio novo simplesmente por variações entre as fórmulas de um fabricante para outro. Isso porque este tipo de testador estima a porcentagem de água absorvida a partir da condutividade, que em teoria irá aumentar à medida que aumenta a concentração de água e, posteriormente, indica se o fluido está bom ou não.

Como já mencionado, este método é uma estimativa altamente sensível a variação de fórmula tornando-o, muitas vezes, falho e inadequado. Se a canetinha fosse calibrada para determinado fluido e usada somente para testar produtos idênticos, o resultado seria mais confiável. Ou seja, idealmente, cada testador estaria apto somente para um tipo de produto fornecido por um único fabricante e uma mesma fórmula. 

Testes de fluido de freio por temperatura de ebulição

Teste de fluido de freios por temperatura de ebulição.

Esse tipo de equipamento aquece a amostra do fluido para estabelecer o ponto de ebulição. Neste método, as variáveis que alteram a condutividade não afetam a medição, proporcionando valores confiáveis.

O equipamento possui fácil manuseio e não requer uma calibração personalizada como instrumentos por condutividade, por isso é um ótimo equipamento de verificação do fluido de freio para ter na oficina.

Infelizmente, este tipo de equipamento não é tão simples de adquirir como o modelo por condutividade, porém ele oferece melhor equilíbrio entre custo e desempenho.

Ao lado, teste feito no produto MOTUL DOT 5.1 que foi aberto imediatamente antes do teste.

Teste de fluido de freio em laboratório

Para equipamentos especiais ou em situações onde é necessário o máximo de precisão ao determinar o teor de água no fluido, é recomendado que seja feito o método de Karl Fischer e alguns outros procedimentos que vão determinar a real condição do fluido.

O alto custo, tempo necessário para verificação e baixa oferta de laboratórios para este fim impedem que a análise laboratorial seja utilizada para determinar o momento de trocar o fluido do uso diário dos veículos convencionais, sendo utilizado somente para fins específicos.

Impacto de não realizar a substituição do fluido de freio

A degradação do fluido a partir da umidade, além de baixar consideravelmente a temperatura de ebulição, promove a tendência à corrosão, alteração da viscosidade, danifica tubulações, causa mau funcionamento no ABS e em outros componentes que estão em contato com o fluido.

Portanto, a falta de manutenção preventiva é um risco à segurança e pode apresentar alto custo no momento da manutenção corretiva. Vale destacar que o processo de oxidação e degradação do fluido pode ocorrer até mesmo em um produto novo quando armazenado incorretamente ou por longos períodos. Em função disso, o prazo de validade máximo para o fluido de freios é de 3 anos a partir da data de fabricação, conforme a portaria do Inmetro nº 456 de 16 de novembro de 2021.

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