Técnico

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Por que o óleo do motor baixa?

Marcelo Ricardo Rocha
Engenheiro de Aplicações

Os manuais dos veículos trazem a informação de verificar periodicamente o nível do óleo do motor antes da sua utilização. Entretanto, no início de sua vida, o lubrificante se mantém em um nível quase que constante e, próximo ao final, o consumo passa a aumentar. Mas, qual é a razão para este fenômeno, sendo que o motor não se encontra com desgastes?

Neste texto vamos explicar isso e a razão de uma boa formulação do lubrificante estar diretamente ligado a um menor consumo de óleo.

Todo motor consome uma parte do lubrificante. Há 3 principais fontes de consumo de óleo em um motor que não apresente folgas devido ao desgaste. A primeira razão é o consumo por evaporação, devido ao fato de o lubrificante trabalhar aquecido. Outra fonte do consumo é por diluição de combustível não queimado, o qual diminui sua viscosidade, permitindo que uma pequena parcela passe para a câmara de combustão e seja queimada. E a última origem do consumo é o cisalhamento do aditivo MIV (melhorador do índice de viscosidade), diminuindo apenas a sua viscosidade a altas temperaturas, e consumindo o lubrificante de modo análogo a diluição por combustível.

Características do lubrificante

Os lubrificantes são compostos por 2 ingredientes principais, os óleos básicos e os aditivos. Ambos são responsáveis por melhorar a resistência ao envelhecimento e ao consumo do lubrificante. Quando o assunto são os óleos básicos, eles podem ser divididos em 5 grupos, que vão desde a extração do óleo cru por destilação, passando por processos de refinos, até chegar nos elaborados sintéticos. 

Durante o processo de refinamento, os grupos passam a contar com um melhor índice de viscosidade e maior resistência à oxidação. Entre os aditivos presentes na composição,o melhorador do índice de viscosidade terá grande impacto no consumo do lubrificante ao longo de sua vida útil. O MIV é um polímero com uma longa cadeia de hidrocarbonetos que fica emaranhada a baixas temperaturas, e quando aquecido, se expande, proporcionando o efeito de multiviscosidade ao lubrificante. Mas, esse efeito é diminuído com o cisalhamento da longa cadeia. Três tipos de MIV são comumente utilizados nos lubrificantes:

  • OCP – copolímero de olefina – possui a mais baixa resistência ao cisalhamento
  • PMA – polimetacrilato – apresenta resistência mediana
  • Dieno-estireno hidrogenado possui a maior resistência

Teste de volatilidade Noack em homologações

Este ensaio consiste em manter o lubrificante aquecido em 250°C durante 60 minutos. Após o período de cozimento, a massa da parcela residual do lubrificante é medida. Quanto menor a massa, maior será a evaporação. Diferentes homologações possuem diferentes níveis máximos de tolerância para a volatilidade. As recentes normas API SP e ILSAC GF-6A e GF-6B, por exemplo, aceitam lubrificantes com, no máximo, 15% de volatilidade no ensaio Noack. 

Já as homologações ACEA são mais restritivas para este teste, aceitando apenas lubrificantes com evaporação inferior a 13%. Dessa forma, desde 2012 as homologações ACEA já possuem maior exigência neste quesito. Isto implica que um lubrificante com somente a homologação API SP não apresentará menor consumo de óleo do que um lubrificante com API inferior (SN+, SN, SM ou SL), mas que possui uma homologação ACEA.

Diferentes grupos de óleos básicos apresentam diferentes volatilidades. Algumas bases sintéticas possuem volatilidade por volta de 5,5%. Entretanto, como o lubrificante é uma mistura de óleos básicos e não costuma ser composto exclusivamente por um único grupo, o valor da volatilidade total tende a ser maior.

A temperatura utilizada no ensaio consiste no cenário do lubrificante em contato com o pistão em um motor com alta carga, no qual o pistão, facilmente, alcança a temperatura de 250°C. Neste cenário, é possível que a temperatura do óleo no cárter esteja próximo aos 130°C. Assim, quando a temperatura ultrapassa os níveis normais de uso, para cada 10°C de aumento na temperatura, há um encurtamento da vida útil pela metade.

Mas, como o lubrificante é composto por diferentes hidrocarbonetos, sua evaporação não ocorre de forma homogênea. Os hidrocarbonetos leves são os primeiros a serem volatilizados, aumentando a viscosidade do óleo remanescente, o que contribui para a perda de potência do motor, visto o maior consumo de energia gasto pela bomba de óleo para circular o lubrificante pesado, e consequentemente, maior consumo de combustível e geração de gases poluentes.

Então, durante a vida do lubrificante, pode haver um aumento da viscosidade caso sua formulação não possua excelente resistência a oxidação, ou a queda, caso a diluição por combustível e quebra por cisalhamento seja maior que o engrossamento por oxidação.

Como evitar o consumo de óleo do motor?

Bom, agora que você já conhece um pouco mais sobre o consumo do óleo do motor, basta escolher o lubrificante ideal para a sua máquina. Lubrificantes com maior parcela de óleos básicos sintéticos e bom pacote de aditivos proporcionarão maior resistência à evaporação e ao cisalhamento. Por isso, a Motul formula cuidadosamente seus lubrificantes de modo a garantir a máxima eficiência do motor, aliada a máxima proteção dos componentes internos.

Mas, se você não sabe qual óleo deve usar, em nosso Guia de Aplicação é possível encontrar as melhores recomendações de lubrificantes para o seu veículo. Além disso, outra boa prática, além da escolha de um excelente lubrificante, é ficar de olho no nível do óleo, de modo a sempre utilizá-lo entre os intervalos de nível máximo e mínimo. Afinal de contas, o uso abaixo do nível mínimo acelera o processo de degradação e envelhecimento do lubrificante. Então, fique atento a isso!

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